28 agosto 2012

Corinthians, modéstia à parte - O medo maior


Conforme previsto, o título da Libertadores fez um mal terrível ao Corinthians. Sua torcida, a verdadeira energia vital do time quando em campo de batalha, está no mais alto nível de alienação já visto em nossos quase 102 anos. No capítulo 15 da obra de Nailson Gondim que vamos reproduzindo por aqui, um breve relato sentimental daquele que foi um período de grande dureza para a Fiel. Tempos que, repetidos hoje, talvez trariam como resultado algo completamente diferente.

Voltemos nossa atenção à trajetória alvinegra, corinthianos. Ela nos basta. Maiores que qualquer imposição midiática, todas as batalhas lutadas e vencidas fazem o Corinthians esse gigante movimento social. Em cada canto do mundo, o corinthiano precisa se conscientizar, se mobilizar e promover sua pequena intervenção. Há nas salas ar-condicionadas do Parque São Jorge gente da pior espécie, todos eles mamando na teta e iludindo o torcedor com conversinhas fiadas. Pesquise, leia a Bíblia Corinthianista de Diaféria, escute na Rádio Coringão o programa semanal de nosso professor Filipe e beba nas fontes certas. Não dê carniça para jornalista abutre que só quer reinventar a história em benefício do seu patrão madame. Apoio incondicional é para ser usado somente nos 90 minutos; mais que isso é cegueira ou falta de compromisso com a causa.

O Corinthians é o povo. O Corinthians é do povo. O Corinthians está em nossos corações. Que Corinthians queremos para as próximas gerações?

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O medo maior

Os anos 60 e 70 foram terríveis para o povo corinthiano. Só decepções encadeadas numa sucessão de incógnitas que logo se tornou fato curioso. E contraditório, porque enquanto o time amealhava a seqüência perturbadora da perda de títulos, ganhava o cognome "Timão". Era forte e não deixava de colaborar com a Seleção Brasileira, cedendo jogadores. Enchia estádios, apesar da fase de agouros, e crescia sem explicação, confundindo quem procurava motivos que justificassem isso. Foram também anos de outros grandes times pelo Brasil todo, mas entre os melhores estava o Corinthians - maior nas derrotas que nas vitórias, sua eterna contradição. Nada valeu naquela penitência que cumpria não se sabe por quê. A camisa começou a pesar para alguns. E não era o peso da âncora no distintivo. Tudo dava errado no fim, e quando o passo ao título era largo acabava em tropeço. Queda fatal, que deixava profundas marcas em quem jamais conseguia pular uma poça d'água sem pisar a beira e molhar os pés. Trabalho perdido na luta de cada ano. Não faltou incentivo, porém, naqueles anos de castigo. Havia estímulo de todo o tipo para que - independente de sacrifício - se desse fim àquele tormento paradoxalmente nada desanimador, mas espinhoso. Até quando iria aquilo ninguém sabia. Dizia-se ser "até o ano que vem". E assim se fez uma década. Depois mais uma. Em lugar do ciclo dos anos, começava o ciclo das décadas. Má sorte ameaçadora e brutal contra quem persistia e cultuava a expectativa de vencer uma vez. E, com as viradas na folhinha sempre renovando esperanças, surgiu o que menos se poderia esperar: a solidariedade. Era a solidariedade dos adversários que - falsa ou verdadeiramente - se mostravam ansiosos para ver o Corinthians campeão. Mas não era piedade ao sofrimento do povo corinthiano. Era para acabar com o pavor que eles sentiam todo ano com aquele Corinthians preparado para vencer um dia. Isso os atemorizava. Era o maior medo deles.

24 agosto 2012

Taça Malabaristas da Arbitragem



"Temos o imenso prazer de convocar os senhores Emerson Augusto Carvalho e Flavio Rodrigues Guerra para receber nesta sexta-feira, 24 de Agosto, às 18 horas, na sede da Federação Paulista de Futebol, no bairro da Barra Funda, nesta Capital, a Taça Malabaristas da Arbitragem.

Dessa forma, reconhecemos o talento da dupla na construção da vitória do Santos Futebol Clube sobre o Sport Club Corinthians Paulista, em 19 de agosto passado, em partida válida pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2012.

Os malabarismos de Carvalho e Guerra exibiram o talento da arbitragem brasileira para desmoralizar o futebol brasileiro e, assim, quem sabe, dirigir o interesse público para outros divertimentos, como o estudo da acústica dos apitos seletivos e das moléstias da articulação complexa entre o braço e a escápula.

A dupla é responsável pelo recorde mundial de impedimentos não assinalados em um único lance de gol. Foram três no segundo “tento” do clube mandante.

De forma extraordinária, mostraram capacidade reversa, ao assinalar impedimento em jogada do atleta Romarinho, do Sport Club Corinthians Paulista, no primeiro tempo da referida partida.

A Brigada Miguel Bataglia tem por objetivo defender o “CORINTHIANISMO” e trabalha todos os dias no resgate das virtudes que convergiram para a fundação do TIME DO POVO.

Os brigadistas celebram as raízes populares, democráticas, libertárias e humanistas do clube do Bom Retiro. Valorizam a miscigenação, o multiculturalismo, a universalização de direitos a inclusão por meio do esporte,

Ao mesmo tempo, combatem a elitização do espetáculo da bola, a divinização do “business” de pilhagem e a instrumentalização do futebol por partidos e instituições associadas ao pensamento egoísta-conservador.

O Corinthians tem um papel na sociedade brasileira, que é despertar paixões, construir identidades solidárias e agregar esforços no processo civilizatório. Como sentenciou nosso primeiro presidente, Miguel Bataglia, 'o Corinthians é o time do povo, e é o povo que vai fazer o time'."

21 agosto 2012

Corinthians, modéstia à parte - O caminho do êxtase


Novamente voltamos para o 14º capítulo do livro "Corinthians, modéstia à parte", de Nailson Gondim. O trecho desta postagem destaca a função social do corinthianismo, artigo raro em nossa torcida nos últimos anos. Não me estenderei, porque as palavras de Gondim falam muito melhor - com grifos meus em especial.

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O caminho do êxtase

Futebol é alienação, pois desse caminho não escapa. Na Copa do Mundo, então, o ufanismo nacional mostra como esse esporte é mobilizador, manipulador e, dependendo das possibilidades da Seleção, atração presidencial. Mede-se por aí. Todos sabem disso; todos desconhecem isso. Problema para a sociologia política esclarecer. Agora, corinthianismo não é alienação. É futebol também porque nasceu desse meio, veio para ficar e continuou com sua origem em razão da autenticidade que não perde. Mas, por meio desse esporte, escolheu o caminho da fé, em que andam a vitória e a derrota, o sorriso e a lágrima, o abraço e o soco... A sociologia política não esclarece isso. Não pode. Há misticismo, mitologia e magia por trás do corinthianismo - caminho pelo qual não se reza cartilha, não se cumpre estatuto, não se é doutrinado por catecismo. Possui regulamento, instintivamente, mas nada rígido. A obrigação - todos os seus sabem - é acreditar sempre, não invejar jamais e orgulhar-se do que é. Regra complicada para os leigos que procuram cores, nível social e engajamento em grupos preocupados com individualidades, em vez de união. No corinthianismo, cada um tem conhecimento de sua responsabilidade espiritual com o compromisso concebido. Não há juramento - não se pede - e cada qual é livre em seu direito, sempre reconhecido, de aplaudir e vaiar. Faz de todos fiéis e não reprime quem grita um palavrão, quem bebe uma pinga a mais ou quem leva embora a bola chutada do campo para as arquibancadas. Momento de desabafo e descontração de um trabalhador, de um estudante, de um desempregado. Gente sem cadeira no Legislativo, mas com presença assumida com seu povo nos estádios. "Todos próximos da alienação" - generalizarão. O corinthianismo não pode distanciar-se disso. Tem de estar no meio. E o único caminho aberto para os desamparados, os explorados e os que lutam sem parar contra os desvios de outros caminhos. Concentra em seu seio fortes e fracos, bonitos e feios, ricos e pobres... O corinthianismo não é ciência, religião ou utopia. É um caminho igual a muitos: com pedras, espinhos e barreiras. Mas, com uma diferença: o corinthianismo leva ao êxtase.

14 agosto 2012

Corinthians, modéstia à parte - A vitória dos rivais


Na décima terceira parte da série "Corinthians, modéstia à parte", o pernambucano Nailson Gondim mostra o quanto é doentio o sentimento anticorinthiano, que na verdade representa o ódio contra o próprio povo brasileiro. E Gondim faz isso como se deve fazer: galhofando desses pobres diabos, cuja vida se resume a criar demandas para o Corinthians, que vai lá e as vence. Todas. 

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A vitória dos rivais

O passado não faz os maiores times do Corinthians. É verdade que a história corinthiana conta de suas equipes que só foram gol, vitória e alegria; destaca a maioria que criou e cultivou a raça, a garra, a coragem; mostra os que, com o seu espírito de luta, ajudaram a popularizar essa fé; diz como foram formados os mosqueteiros de legendária carreira; ressalta os que fizeram lema da reação que se imortalizou em viradas marcantes; explica o cognome Timão; relata a conquista do irreparável título Campeão dos Campeões; e, entre outras proezas, lembra a mais recente vitória: o exercício da Democracia Corinthiana - antecipando-se à democracia política almejada em todo o País. Quanto mérito! Mas nem por isso pode-se dizer que o maior time foi este ou aquele, com todo o reconhecimento aos que foram, com a camisa do Corinthians, verdeiros guerreiros e craques que suaram e até ensanguentaram pelo time. Sangue, suor e gol! A lágrima, nessa tríade, vem depois: de alegria. O passado não foi esquecido. Isso não. Será sempre boa recordação e cada vez mais guardado nos arquivos dos grandes. Um vai contar para outro, outro vai contar para um, e quem quiser que conte para todos. Todos o ouvirão. Mas o maior time, o melhor desde o começo do mundo, ainda está para chegar. Pode parecer utopia. Doce utopia. Não importa. O que basta é saber que, quando isso ocorrer, o corinthiano - todo o povo corinthiano - vai precisar de bons argumentos para enfrentar a inveja dos rivais, principalmente se o time não mantiver a média de 10 a 0 por jogo e vencer somente de 6 a 0 ou 4 a 0. Dois a um nem pensar! Então é que a rivalidade será para valer. "Campeão invicto? Mas tomou um gol no campeonato, ha, ha, ha..." - debocharão os adversários. E o Corinthians, campeão - quem sabe - por 23 anos consecutivos (antiironia), mas sem poder exibir esse feito porque, nesse período, jamais terá conseguido ser campeão com mais de dez pontos sobre seus vice-campeões. Um motivo a mais para os rivais gargalharem. É a vitória deles.

07 agosto 2012

Corinthians, modéstia à parte - A carapuça


Eu não compactuo com a mediocridade. No entanto, o futebol dito moderno anda consagrando muito filho da puta que pratica o anti-jogo, no pior dos significados do termo. Nessa toada, o cara ganha um título ali e aqui e já logo é chamado de gênio, incompreendido, alvo de radicais. Eu, que fui criado vendo o Corinthians jogar como Corinthians - e isso inclui técnica, raça (não confundir com correria, porque jogador não é velocista) e, acima de tudo, vergonha na cara e vontade de ganhar -, faço minhas as palavras do grande Nailson Gondim, que nesta décima segunda parte de sua obra "Corinthians, modéstia à parte" dedica algumas palavras ao Seu Burro. "Con razón o sin razón, o Corinthians tiene siempre razón!", diria Manuel Correcher.

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A carapuça

Conferir o banco de reservas do time é hábito comum para o povo corinthiano. Na hora do aperto - o aperto existe, corinthiano não vive em nuvens brancas, mas em nuvens brancas e pretas - os olhos têm a mesma direção: o banco de reservas, onde pode estar um substituto salvador. O pedido sai, instintivamente, das arquibancadas. Há momento certo para a reivindicação explodir como seus rojões. Este lampejo de ansiedade leva muitos técnicos a ponderarem sobre a máxima "Em time que está ganhando não se mexe", mas a se confundirem quando ocorre o contrário, não se arriscando a fazer substituição. Eles se apegam ao dito popular "A esperança é a última que morre", sem a preocupação de que, num jogo do Corinthians, a esperança deles não recupera minutos, e se ficar por último também sai derrotada. Para o povo corinthiano, a "esperança" está no banco de reservas. Tanto pode ser o zagueiro violento ("Põe ele aí pra impor moral, seu Burro!"), como o armador e lançador ("Mexe nesse meio de campo aí, seu Burro!") ou, então, o atacante rompedor ("Tá na hora de pôr ele aí, seu Burro!"). Mas "seu Burro", geralmente, não entende de Corinthians. Como está recebendo para dirigir, se for dirigido não justifica seu salário; ou porque podem pensar que ele atendeu ao povo corinthiano para fazer média. E o tempo passa, o aperto aumenta o sufoco e todos lá, no banco de reservas, intocáveis, balançando as pernas, bocejando e chupando o gelo que deveria ser usado para desinchar as marcas da luta. E "seu Burro" com cara de quem tem dúvida se realmente "a voz do povo é a voz de Deus", preferindo ajustar-se à frase borada na lapela em que baba: "A voz do povo corinthiano não é a voz de Deus". Claro (resposta a "seu Burro"), o povo corinthiano não é onisciente, onipresente. Está lá, de ingresso pago e enfrentando qualquer clima e tempo. É ele quem vê, sente e profetiza seu destino sem perder o otimismo. O povo corinthiano não é o coração do time, é o espírito. Um espírito que conhece as manhas do jogo, sabe esquematizar a equipe e percebe quando chega a hora de mudar. Não é espírito profissional, é espírito corinthiano. Por isso reclama, exige e contesta, porque não tolera esperar os 15 minutos finais - prazo estabelecido por tradição para "seu Burro" alterar o time - para ser atendido. Quando o povo corinthiano se manifesta, pedindo substituição, é porque a substituição é necessária. E acerta, pois está sempre atento e preparado para agir contra os desmandos que dificultam ainda mais sua sobrevivência. Que "seu Burro" pense nisso.