18 julho 2012

Corinthians, modéstia à parte - A cor da derrota



Retomando a série que nos acompanhou na vitoriosa trajetória daquele torneio que acabou com o assunto da anticorinthianada doente, eis agora um texto importantíssimo. O título do nono capítulo da obra "Corinthians, modéstia à parte", de Nailson Gondim, pode soar pessimista ou negativo à primeira impressão. Mas trata, na verdade, de um sentimento importante que todos nós devemos carregar, principalmente após essa conquista recente que pode apagar erros gritantes e alienar ainda mais a massa corinthiana. Está tudo aí, portanto, para que fiquemos sempre atentos.


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A cor da derrota


Vitória do Corinthians é luta sem fim e cheia de bate-e-rebate, e só em dia de graça é que se torna fácil. Quando isso ocorre, há o inevitável lamento pelos gols perdidos, pelos lances marotamente desperdiçados e pela vontade frustrada de quebrar o recorde de goleada e preencher um espaço sempre reservado no Livro de Recorde Guiness. É verdade que a vitória foi de 5 a 0 sobre o Palmeiras, 4 a 1 ante o Flamengo, 10 a 1 contra o Tiradentes... Mas, por que não 20 a 0, 30 a 1 ou 50 a 1? Era só jogar um pouco mais - e pronto. Isso não significa mais pontos ganhos, a vitória terá o mesmo valor. E daí? Gols neles, que ganham pra isso: pegar a bola dentro do gol quando enfrentam o Corinthians, de quem são gandulas e, por esse motivo, respeitados. A situação se inverte, ocasionalmente, não se sabe por quê. As cores da vitória são branca e preta (deve estar escrito em algum lugar bíblico, divino ou corinthiano); branca e preta corinthianas, cores que surgiram da dificuldade de um inesperado desbotamento das primeiras camisas cremes. Foi, portanto, determinação de um fator - causa que não abriu discussão e teve unânime receptividade de quem estava autorizado a definir as cores de uma nação com o branco e preto. E estas cores - que parece ter sido criadas uma para a outra - floresceram, frutificaram e reproduziram (flor, fruto e gente corinthianos). São as cores que mais aparecem nos estádios, nos campos da vida, na porta dos lares, no peito dos desempregados, nos vidros dos carros, na satisfação dos sãos, no cobertor dos mendigos, no sorriso dos inocentes, nos braços dos carregadores, nas janelas dos presídios, na mesa dos empresários, no chaveiro do matuto, no leito dos enfermos, no espelho dos que amam, na carrocinha do pipoqueiro, na saia rendada da moça tímida, na tatuagem da prostituta, no elevador Lacerda, no Corcovado, no rio São Francisco, na feira de Caruaru, na estátua do padre Cícero, no viaduto do Chá, em Florença, em Nova Iorque e Bauru. Nas derrotas, as cores mudam de tom. A cor da derrota corinthiana são todas as cores, inclusive com o branco e preto, porque - sem desmerecer os vencedores - o Corinthians perde mesmo é para si próprio. É para não deslustrar o colorido das derrotas.

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