15 janeiro 2012

Revolução corinthiana já!


Se você está com saudades antecipadas da gestão de Andrés Sanchez que se encerra no próximo mês, pare de ler este texto imediatamente. Ele é longo e indigesto aos fúteis ou descompromissados. O que vem abaixo é um manifesto pessoal, à disposição de quem queira contribuir ou me atacar, de acordo com suas preocupações e prioridades. No mais, minha intenção é aproveitar o ambiente político em ebulição no Corinthians para ser, de novo, aquele chato que reclama de tudo. Se minha chatice é defender nossa instituição, então assumo o papel que me foi concedido.

Já tratei por aqui o que chamamos de espelhinhos de convencimento, que consiste na propaganda supervalorizada daquilo que é básico. Figuram com destaque nesse rol a construção do CT, o estádio e o aumento de faturamento, realizações que deveriam ser vistas como mera obrigação para qualquer administração que assumisse um clube tão gigantesco e com tanto potencial como o Corinthians. Peguemos o caso das receitas para ilustrar rapidamente a inoperância. Numa relação tosca entre faturamento de 2010 (R$212 milhões segundo o balanço) e o número de torcedores, temos aí uma captação de R$7 anuais de cada corinthiano, indício de desperdício de oportunidade incrível. Anexando esse quociente aos preços praticados na venda de ingressos e de produtos como camisas oficiais - todos eles excludentes -, fica nítido que a estratégia segue na contramão de nossa história.

Do estímulo propagandista para escamotear cagadas, surta uma alienação que se espalha como vírus por toda a Fiel Torcida e detona com as ideologias que, para o bem ou para o mal, serviam a nosso procedimento. Os instrumentos variam de acordo com o momento, de jogadas de marketing a palavrórios de dirigentes. No começo deste 2012, por exemplo, pipocou pela internet uma entrevista lamentável com o presidente que se diz licenciado arrotando mais abobrinhas que o usual e enchendo o prato da imprensa abutre. Curiosamente, alguns recados e provas desse modus operandi ficaram bem claros nas entrelinhas e também nas linhas. Abaixo, excertos da coisa, com os devidos comentários deste que vos escreve:

"Hoje, temos gerentes remunerados e eu queria pôr superintendente, um CEO, que agora tá na moda, aqui no meu lugar (...) Aqui sempre teve diretor amador, apaixonado." - se virar moda tomar no cu...

"É inexplicável o Corinthians começar como começou e se tornar o que se tornou. Não tinha uma bandeira." - para todo corinthiano, não é inexplicável. A explicação é tão sólida que, cem anos depois, tem um descendente de japoneses levando a idéia adiante.

"Eu não sou doutor e tive uma rejeição grande dentro do clube, isso por não ter curso universitário, não falar bonito." - menção indireta, maldosa e desnecessária ao Sócrates, que será repetida logo à frente. Fora isso, vale lembrar de Vicente Matheus, tido como analfabeto, mas cuja aceitação pública era gigantesca. Talvez pela autenticidade.

"O futebol, você tem que entender (...), é a melhor forma de se falar com a população." - aqui, a chave da gestão Sanchez, que realmente falou com toda sua torcida, mas de modo a extinguir os valores do corinthianismo.

"Olha aqui: eu sou presidente do Corinthians. Tenho qualquer informação. Onde você trabalha tem um corintiano e, dependendo do que você falar, ele me fala. Liga aqui e me conta. É inacreditável." - ou seja, ele sabe o que será publicado de mentiroso contra o Corinthians e, mesmo assim, não prepara a defesa do clube.

"Hoje, no Pacaembu, vira e mexe eu assisto jogo da arquibancada." - essa é uma das mentiras que, repetida à exaustão para aquele torcedor que não vai ao Pacaembu com freqüência, acaba virando verdade. Nunca vi Andrés Sanchez pelas arquibancadas desde que ele começou a ser figura pública.

"O maior faturamento do Corinthians é bilheteria e patrocínio. A partir do ano que vem, vai ser da televisão. Ela [a televisão] tá pagando! Ela não quer saber quem vai ao estádio, quer saber quem liga a televisão!" - nefasto, o presidente força o clube a abrir mão de sua autonomia e se torna refém de uma emissora vil, cuja ideologia é totalmente contrária aos interesses do torcedor e do povo brasileiro.

"eu cobro US$ 300 dólares e eles, US$ 1.000. Por quê? Porque eles têm estádio decente. O dia que eu tiver um estádio decente, os preços são outros!"- aqui, uma dica de quais serão os preços no estádio em Itaquera, reforçando o processo de elitização do futebol e, mais grave, do torcedor corinthiano presente aos jogos.

"como o Sócrates escreveu que ele sabia que eu não tinha me formado nas melhores escolas da Europa, mas, pelo menos, tinha estudado em escola pública no Brasil." - novamente, ele demonstra seu incômodo com a figura do Doutor, um dos principais críticos do parasitismo que infesta a política interna do Corinthians.

"O Corinthians vai fazer uma arena de show aqui (mostra o campo de futebol do Parque São Jorge). Vai tirar essa merda toda e construir uma arena pra 25 mil pessoas." - alguém que chama o Monumental Alfredo Schürig - fruto do suor de centenas de guerreiros corinthianos - de "essa merda", só pode estar demonstrando seu desdém pela nossa centenária história.

"Não tem cabimento ter meia-entrada em futebol e não ter meia-janta! Meio-almoço! O que é mais importante: um jogo de futebol ou comer?" - um corinthiano jamais diria isso. O corinthiano deixa de comer pra ver o Corinthians.

"Você acha que é fácil fazer isso com a Odebrecht? Mas eu tenho costa quente (risos)." - o pedantismo é característica marcante de aficionados pelo poder.

A matéria não pára aí. Vem com um apêndice e troca gato por lebre,
exaltando as qualidades democráticas e participativas da eleição da rainha da Inglaterra conhecida como RPC. Timing perfeito, como toda manipulação de Sanchez, já que o troço aconteceu dois meses antes da votação de verdade. É claro, é notório, é explícito que essa porcaria não vai resultar em nada para o corinthianos, mas deu às representações ilegítimas que atuam no Corinthians um cenário de águas calmas para a prática dos crimes mais cruéis possíveis.

E o crime veio, com a nova regulamentação que limita o voto do associado à escolha de apenas um grupo de 200 velhacos para representar os anseios de milhões no Conselho Deliberativo. O inaceitável retrocesso foi defendido por situacionistas e oposicionistas, cada um a seu tempo, mas ambos aspirando manter as coisas como estão. O helulismo, meus caros, é ainda muito presente por aquelas bandas, mesmo que seu fundador tenha ido para o merecido inferno ano passado. Para tanto, vale espiar os membros do Conselho Vitalício, esse câncer a ser extirpado, e notar quantos helus, dualibs e curis ainda figuram no órgão, ao lado de outros não menos infames como o ex-governador Fleury, o ex-promotorzinho aparecido Fernando Capez, Miriam Athiê e Romeu Tuma Jr., além dos conhecidos Citadini, Rubens Approbato e Waldemar Pires.

Cartas à mesa, basta somar dois e dois e apreciar o esquema da perpetuação do lixo nas salas ar-condicionadas do Parque São Jorge: o dito "torcedor comum" é iludido com palhaçadinhas marketeiras, o tráfico de influência junto às lideranças de organizadas é fortalecido e a participação do povo no Time do Povo escorre pelas mãos como areia. Paralelamente, os inocentes e os não tão inocentes úteis trabalham a todo vapor para defender sua boca na teta, tentando convencer quem não vota (por falta de po$$ibilidades ou por ainda estar na quarentena do Estatuto) que suas intenções são as melhores possíveis.

Neste período eleitoral, o corinthiano de arquibancada que não tem os 800 reais do título de sócio porque precisa pagar ingresso, será abordado pelas duas facções majoritárias e ouvirá maravilhosas promessas. Os pleiteantes precisam ganhar visibilidade e apoio externo para se salvaguardar e falar, indevidamente, em nome da maioria. De um lado, os de Sanchez irão investir no discurso de manutenção do planejamento, da estrutura, da organização e da modernização como etapas para obtenção de uma participação cada vez mais ampla. Já os opositores posarão de arautos da moralidade, pregando austeridade e tolerância zero com as falcatruas que eles próprios instituíram lá dentro.

Sendo assim, no próximo dia 11 de fevereiro, é dever daqueles que lutam pelo resgate do corinthianismo ir até a porta do clube para manifestar seu desejo de ampla abertura política no Corinthians. A Revolução Corinthiana urge! Pelo fim do Conselho Vitalício! Pelo voto do Fiel Torcedor! Pelo fim das cláusulas de barreira para votantes e candidaturas!

O CORINTHIANS É NOSSO!

ACORDA, FIEL!