08 junho 2011

O primeiro-ministro


Estou há tempos querendo falar da experiência sensacional que foi ler a autobiografia de Erasmo Carlos, o nosso Tremendão e brasileiro máximo. Dei o livro de presente para minha Evinha, na tentativa de amolecê-la um pouco mais com relação às músicas da dupla Roberto-Erasmo, bem como dar continuidade à suja - mas justificada - campanha em prol do Rio de Janeiro. Sim, porque Erasmo é um fidedigno carioca da Tijuca, bairro onde mora a verdadeira essência da Cidade Maravilhosa da qual sou fã.

É na Tijuca, aliás, que se passa grande parte das narrativas, todas elas soltas e sem, necessariamente, seguir a lógica natural do tempo. Erasmo vai ali, volta acolá, e nos diverte muito, do mesmo jeito que faz em sua vasta e rica produção musical. Lembra de seus amigos de infância - entre eles, ninguém menos que Tim Maia (um grande parceiro de roubadas, putarias e canções) e Jorge Ben - e menciona sempre sua eterna adoração à mãe, Dona Maria Diva.

Todos esses causos passados na zona norte do Rio talvez expliquem o porquê de Erasmo, ao contrário de seu ilustre parceiro, atiçar nas pessoas um ar de proximidade, de cumplicidade. Se Roberto tem aquela aura de quase intocável, o Tremendão é gente da gente, daqueles que tomam várias no butiquim e vão ao Maracanã. Ele viveu as ruas, brincou nas calçadas, conheceu pessoas de todos os tipos e origens, e da sua própria nunca esqueceu. Corcoviador, sarrista e farrista, Erasmo foi levando o tempo na malandragem, na manha, e não deve haver um ser vivo que ouse profaná-lo.

Não que as más-línguas não tenham tentado. Ele conta, por exemplo, que sua única briga com o amigo de fé, irmão camarada, foi motivada justamente por um diz-que-me-diz venenoso. Porém, as outras tantas emoções, vividas ao lado do Rei e de figuras essenciais em sua trajetória (destaques óbvios para a mulher Narinha e o mentor Carlos Imperial) e despejadas nas 360 páginas do livro, foram suficientes para marcar a memória com o sorriso aberto que sempre estampa o rosto de Erasmo.

No último domingo, o cara completou 70 anos e quase nada se escutou sobre a importante data. Repito: Erasmo é um brasileiro máximo. Ainda que a mídia tente ofuscar sua existência mantendo os holofotes exclusivamente sobre o Rei, a gente lembra
por aqui que essa monarquia tem um primeiro-ministro. E é o primeiro-ministro quem comanda. Salve, Erasmo Carlos!

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