06 janeiro 2011

Vence a mesquinharia


São Paulo vai perder no próximo mês uma das poucas salas de cinema que eu freqüentava.
Falo do Belas Artes, na Consolação, que cerra as portas em 2011. Apesar de não ser um assíduo das telonas, quando me arriscava a encarar um filme fora de casa era para lá que eu sempre pensava em ir. Não por que ele contava com modernices desnecessárias de som cheio de nove horas, 3D e outras firulas que só servem para encarecer os ingressos, mas sim por ser aquele estabelecimento um dos poucos a vender cerveja, não estar enfurnado dentro de um maldito shopping center e ser localizado numa região de fácil acesso por metrô e com vários bares - esse último quesito, aliás, é importantíssimo para quem gosta de dividir as impressões do que viu logo após o letreiro final.

Mencionei o preço e ressalto que, para mim, seria muito mais conveniente ir ao Unibanco da Rua Augusta que, além de ter as mesmas características do Belas Artes, me permite pagar meia-entrada por minha condição de correntista do Itaú. O problema está nos filmes que passam lá, a maioria chatíssimos, e principalmente na disposição das poltronas. O Unibanco é praticamente um Morumbi das salas de exibição, tamanho o número de pontos cegos.

Voltando ao Belas Artes, diz a apuração da Falha de S.Paulo (vamos fazer um esforço para confiar) que o imóvel foi requisitado pelo proprietário porque "Perderam o prazo... Não tenho nada a declarar". Segundo consta, o mesquinho que atende pelo nome de Flávio Maluf preferiu assassinar um lugar histórico na capital paulista a estender o prazo dado ao administrador do cinema para que ele buscasse patrocínios e viabilizasse o funcionamento das salas.

Repito: não sou um cinéfilo e meu gosto para o troço é de qualidade duvidosa. Aprecio certas bobagens para as quais muita gente torce o nariz, como as quadras de "Máquina Mortífera" e "Duro de Matar", além da pérolas "Férias do Barulho", "Quanto mais idiota melhor" e que tais. Essa falta de recurso intelectual a respeito do assunto me força a enxergar o fato a partir daquilo que eu valorizo, o que me faz lamentar ainda mais o fechamento do Belas Artes. Existe ali um certo ar comunitário, uma certa intimidade entre casa e espectador. Penso na família dos funcionários que serão demitidos por conta do pensamento umbiguista de um paulistano típico. Penso também na loja de CDs e DVDs raros que tanto me causou rombos no orçamento. Penso que certas coisas deveriam ser assumidas pelas administrações públicas por seu significado histórico e cultural.

Mas nesses tempos, o que eu venho pensando não anda valendo quase nada...

Sorria, São Paulo.

4 comentários:

Rodrigo Barneschi disse...

A julgar pela matéria da Folha, trata-se de um ato da mais pura mesquinharia. O tal Maluf resolveu que iria abrir uma loja no local (imagino na verdade que ele vá vender o imóvel para alguma Casas Bahia da vida) e mandou um foda-se para o Sturm, ainda que ele já tivesse obtido um patrocínio para 2011 (é o que diz a matéria). Perde todo mundo, e em breve teremos alguma tranqueira naquela esquina. Eu falei em Casas Bahia, mas suspeito até que vão colocar alguma Renner, C&A ou qualquer coisa do tipo, uma vez que tem uma Pernambucanas logo ali do lado.

É a modernidade, meu caro. A modernidade chega a todos os cantos e vai arrasando tudo o que temos de mais significativo na sociedade. O que acontece com o Belas Artes é o mesmo que acontece com os nossos estádios de futebol. Pior até, uma vez que os cinéfilos não têm o poder de mobilização que temos os torcedores de futebol.

Em questão de poucos anos, a região da avenida Paulista perdeu o Cineclube Vitrine (na Augusta, lá embaixo), o Gemini (campeão da repescagem de filmes), o Top Cine e agora o Belas Artes. Ganhamos o Reserva Cultural, mas é pouco diante de tamanho prejuízo.

Triste mundo este que se desenha para o nosso futuro...

Craudio disse...

Lembraste bem da devastação na área da Paulista, e isso em todos os sentidos. Pegue o que fizeram com nosso outrora estimado Puppy...

E pra mim esse cretino vai é vender o imóvel pra alguma igreja de crente, provavelmente praquelas Bolas de Neve da vida.

João Medeiros disse...

Tem gente que acusaria vocês de saudosistas. Outros, por sua vez, atacam com retrógrados, ultrapassados, e outros adjetivos do tipo. Eu prefiro entender isso como firmeza de ideias, inteligencia e capacidade de valorizar a essência, o que realmente importa. Aqui no Rio, por volta dos anos 80, vimos o mesmo fenômeno: Os cinemas da Cinelândia, TODAS EXCELENTES SALAS, Palácio, Metro-Boavista, entre outros, sucumbiram ante a sanha inesgotável do tal modernismo. Uma pena que para uns idiotas ser moderno significa não ter memória, ou preservá-la. Uma pena realmente.

Antevejo uma cervejada da boa nos próximos dias com dois grandes amigos paulistas...

Essa foi, sem dúvidas, uma excelente notícia.

Abraços.

P.S.: É promessa: Se o VASCÃO for para a final da Copinha, estarei em São Paulo e beberemos essa cerveja.

Caio disse...

É bem triste saber que o BA vai ser fechado assim, por mero capricho, mesmo após o esforço que a administração fez para conseguir um novo patrocinador. Ficou no ar que, provavelmente, será reaberto em outro locar.