25 novembro 2010

Menestréis da memória


Tente encontrar um brasileiro que não tenha na memória pelo menos cinco músicas de Michael Sullivan e Paulo Massadas, essa que é uma das mais geniais dobradas de compositores do país. A aparente ousadia da afirmação se baseia tão somente na incrível lavagem cerebral que esses caras fizeram e ainda fazem há décadas, educando e formando culturalmente gerações e gerações.

Bate-pronto, os chatos de plantão dirão que "eles contaram com o jabá das grandes gravadoras". Bons tempos em que jabá era tão bem aplicado e bancava artistas de real talento, e não essas bostas adolescentes coloridas atuais. Para comprovar que há profunda diferença qualitativa no caixa 2 fonográfico de antigamente - ao menos, no seu propósito -, tasco um desafio. Recentemente, uma das bandas de maior evidência no quesito paga-que-eu-te-toco-até-enjoar era o tal Charlie Brown Jr. Abertura de Malhação, música em novela, cinco clipes diferentes rodando a MTV, freqüentadores assíduos das falseadas paradas de sucesso das FMs. Voltemos à assertiva do começo do texto e tente recordar cinco porcarias da trupe liderada pelo quarentão que não quer deixar de ser teen. Então...

Seguindo essa linha, vou deixar agora uma listagem que aparece na coletânea "Amor Eterno", que compilou alguns sucessos da dupla. Ei-la: 1) Deslizes - Fagner ; 2) Um Dia de Domingo - Gal Costa e Tim Maia; 3) Nem Um Toque - Rosana; 4) Retratos e Canções - Sandra de Sá; 5) Amanhã Talvez - Joanna; 6) Dê Uma Chance ao Coração - Joanna / Fafá de Belém / Sandra de Sá / Fagner / Alcione / José Augusto / Michael Sullivan Paulo Massadas / Rosana / Patrícia / Roupa Nova; 7) Pra Recomeçar - Paulo Massadas / Michael Sullivan / Sandra de Sá; 8) Leva - Tim Maia; 9) Te Cuida Meu - Patrícia (a Marx); - 10) Nem Morta - Alcione; 11) Manequim - Ney Matogrosso; 12) Coisas Mais Loucas - Fafá de Belém. Independentemente de gosto musical, só pelo nome já dá para reconhecer 80% das faixas. Colocando o disco na agulha, o índice tende a subir, sendo que na maior parte dos casos é 100% de "ah, essa eu sei cantar pelo menos o refrão".

Ainda constam no catálogo Sullivan/Massadas das canções que moram no sub, no super, no médio e em qualquer tipo de consciente "Amor Cigano" (Fafá de Belém), "Amor Perfeito" (Roberto Carlos), "Whisky a go-go" e "Show de Rock 'n Roll" (Roupa Nova), "Estranha Loucura" (Alcione), "Me dê Motivo" (Tim Maia), "Festa do Amor" (Patrícia Marx), milhares da Xuxa, inclusive "Chocolate" e "Parabéns da Xuxa", milhares do Trem da Alegria, "Joga Fora" (Sandra de Sá), "Fui Eu" e "Amar Você" (José Augusto), "Talismã" (Leandro e Leonardo) e "Transas e Caretas" (Trio Los Angeles), entre outras.

Apesar de eu ter crescido sob o bombardeio das músicas infantis, aquela que mais marcou e que me faz sentir o cheiro da tenra idade é "Um Dia de Domingo". É nítida a imagem daquela manhã nublada em que fomos meu pai, minha mãe, minha irmã e eu até um restaurante na praia do Perequê, no Guarujá. Comemos nababescamente e ficamos, já com a trégua da chuva, sentados num banco assistindo à ressaca devorar a orla. "Um dia..." tocou três vezes durante a viagem que, se não teve nada teve de especial, vem sempre à tona quando os nomes Sullivan e Massadas saem da boca de seu povo - hoje, infelizmente, de maneira quase acidental.

Um comentário:

Fernando Romano Menezes disse...

Porra, Cráudio, tava pensando nisso hoje. CB Jr., ô bandinha supervalorizada... fico na dúvida: não há algo melhor na praça ou o poder de jabá de gravadora/empresário é colossal, mesmo? Sinceramente não consigo ver nada de rebelde ou inovador no Sr. Chorão - que usa boné pra esconder a calvície - e sua trupe. É mais do mesmo.