26 maio 2010

Nosso ídolo nacional


Está aí a Copa da África e para entrar no clima dessa festa mundial do futebol estive me encantando com alguns vídeos no Youtube que foram produzidos especialmente para o torneio por... argentinos. Porque não tem jeito, a minha visão do esporte está totalmente ligada ao modo como os hermanos torcem pela sua seleção. Talvez pela significância histórica daquela vitória sobre a Inglaterra vingando as Malvinas, mas principalmente pelo comportamento na arquibancada. Seguindo as dicas de Bruno Ribeiro, quase chorei com esse filme da TyC Sports e gostei bastante desse outro, feito pela Quilmes, dando voz a Deus.

Em contraposição, a gente lembra dos reclames feitos no Brasil e nos deparamos com troços largados, descompromissados e sem a mínima identificação com o torcedor de verdade, nada mais que reflexos do que anda acontecendo diariamente. Se por aqui não valorizam a paixão pela bola rolando, ao sul da fronteira vemos que o amor ao time, a seu país e a sua seleção são mais que sentimentos: também dá para capitalizar em cima disso sem desrespeitar valores e tradições. Notem, por exemplo, a quantidade de especialistas em futebol que aparecem de quatro em quatro anos - é o mesmo zé-povinho que entende de ginástica artística e atletismo nas Olimpíadas. Vejam que, a cada Copa, o brasileiro fica mais distante e menos representado pelos atletas que vestem a amarelinha. Sequer percebemos uma gota de lágrima após as derrotas, até porque tristeza mesmo não há.

A explicação para essa relação aproveitadora do brasileiro com sua seleção pode morar na carência de um ídolo nacional. Não me venham com Pelé, pois ele é incomparável no que fez em campo e intragável quando começa a usar seu alter-ego para se tornar o preto mais branco e racista do planeta. Garrincha talvez tivesse potencial porque bebia e gostava do que o povo gosta. Quem sabe Zico, tivesse ele sido campeão em 82 ou 86, ou então Sócrates, não fosse o Doutor muito frio em sua relação com a torcida. Resumidamente, nunca tivemos a competência e/ou sorte de eleger nosso redentor futebolístico.

Automaticamente, olhamos por cima do muro e vemos no quintal do nosso vizinho um cara chamado Diego Armando Maradona no comando do escrete argentino. Depois de Pelé, o maior que já se viu. Na minha galeria pessoal de ídolos imortais, só não figura antes de Neto, Ronaldo, Tupãnzinho e Biro-Biro porque não vestiu a camisa do Corinthians. Maradona é alma, é raça, é a síntese do povo que se sobrepôs a uma rainha assassina, ainda que com defeitos como seu vício em cocaína. É herói de uma nação porque errou, soube aceitar que errou, pediu perdão e hoje repara tudo isso com um "que la chupen e la sigan chupando!" Entendem a característica essencial de um ídolo?

Na toada toda daqueles vídeos, gastei uma hora e meia do meu tempo assistindo ao documentário "Maradona", do diretor Emir Kusturica, que pode ser visto pelo Youtube (as partes seguintes estão nos vídeos relacionados). Separo, ao fim do post, um trecho do filme que só não deixa comovido quem for muito canalha. É a música "La mano de D10s", feito por Rodrigo el Potro quando Dieguito estava na pior. Manifestações como essa, ironicamente, fazem com que eu mude meu comportamento de torcedor durante a Copa e acompanhe o Brasil mais por causa do patriotismo, só que com a Argentina também no coração. No dia que fizerem um longa como o de Kusturica dedicado a qualquer jogador brasileiro - o Neto merece -, aí voltamos a conversar...


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