26 fevereiro 2010

Hora da Patrulha


Em meio a tanta propaganda enganosa do governo tucano na TV - lembrando sempre, é campanha eleitoral e estratégia de abafa-enchente -, talvez a mais descarada seja aquela que mostra as maravilhosas escolas da rede pública paulista. Por lá, vemos prédios impecáveis, estrutura de primeiro mundo, valorização dos profissionais e gestão eficiente das verbas. Só que no primeiro dia de aula, alunos sentaram no chão porque não havia carteiras, deixando claro o quão fantasiosa é a lavagem cerebral publicitária de José Serra para conter sua queda vertiginosa nas pequisas da corrida presidencial. Os problemas na educação básica não podem ser tratados com esse descompromisso, pois a realidade de quem está nas escolas - tanto alunos quanto professores - é bem mais dura que as mentiras mostradas no reclame.

Instintivamente, o discurso médio transforma os profissionais do ensino em alvo fácil. Nos últimos anos, a opinião pública vem os classificando como meros funcionários encostados que não se reciclam e só querem saber da fortuna no contracheque. O professor é aquele que só falta, que dá uma aula de merda e que não ensina o seu filho a ler e escrever corretamente. Mas seria esse o diagnóstico correto?

Em primeiro lugar, é preciso analisar o período histórico. Faz 16 anos que um mesmo partido e, pior ainda, uma mesma turba desse partido bate cartão no Palácio dos Bandeirantes. São quase duas décadas de exaltação da visão mercadológica e estatística da Educação, ao invés de considerá-la como parte estratégica na construção de uma sociedade mais igualitária. Ao mesmo tempo, há o enfraquecimento ideológico e prático de um sindicato que se engessou pelo corporativismo puro e simples (não é o corporativismo de categoria, mas sim de manutenção do "aparelho"), muito por conta da repressão policial presente em todas as manifestações, mas também pela falta de diálogo com quem está no front da guerra.

Toda essa imutabilidade traz conseqüências duríssimas. Os professores sofrem assédio moral a partir do momento em que são aprovados no concurso público. Prova explícita do crime são as atribuições de sala, verdadeiro pesadelo para quem acumula cargos na capital paulista. Cientes do absurdo que é um profissional ter de trabalhar em mais de um turno para não passar fome, as administrações estadual e municipal encavalam cargas horárias, numa vilania de dar inveja. Concomitante e paradoxalmente, determinam em circular uma desvirtuação de funções, solicitando a organização em mutirão para pintar parede de escola, reformar quadras e limpar banheiros.

O professor da rede pública do Estado ou do Município de São Paulo que quiser tirar licença para fazer mestrado ou doutorado - uma clara preocupação com a formação para posterior aplicação em sala de aula - dificilmente será contemplado. O tal choque de gestão considera aquele que busca reciclagem de conhecimento um potencial vagabundo. Curiosamente, a própria secretaria de Educação orienta mulheres que não conseguem dispensa para estudar (geralmente de dois anos) a pedir uma tal licença para acompanhar marido (sim, o nome é esse). Afora o machismo, qual a lógica?

Portanto, você que fica indignado quando teu filho chega em casa mais cedo pela falta de um professor, já pensou que ele pode não ter ido ao trabalho porque está, por exemplo, com aquela síndrome de pânico adquirida depois de uma reunião de pais e mestres em que um participante mostrou seu revólver no debate? Que para agüentar os constantes pisoteamentos morais, ele recebe um salário ridículo que não chega nem perto do necessário para pagar as contas no fim do mês? E, pior ainda, ele vê todos esses equívocos cotidianamente e não pode nem apresentar uma reclamação formal ou mandar sequer uma carta para jornal porque corre o risco de ser exonerado - a censura aos docentes é lei.

É tudo isso e mais um monte de cagadas que a gente não vê na televisão, naquele filme bonito ou na imprensa do Serra. É esse sistema equivocado, com base na modernidade e nos preceitos neoliberalistas, que acaba colocando duas forças aliadas em confronto e que as induz à apatia e à desmotivação. Ao invés do apego ao que está na telinha, não seria interessante se TODOS os pais participassem da formação escolar de seus filhos, sem querer jogar toda a responsabilidade nas costas dos professores? E os professores, por sua vez, não deveriam se mobilizar em prol do fortalecimento de seu sindicato? O inimigo, que fique bem claro, é um só. Aliás, é uma sigla só, e de bico bem comprido.

Sorria, São Paulo.

Um comentário:

Filipe disse...

A pessoa, pra ser professora, TEM QUE SER GUERREIRA.

O político, por sua vez, é o verdadeiro vagabundo canalha.

E o desavisado escuta abutre, acata abutre, que é pau-mandado de vagabundo.

Isso é uma vergonha...

(E a abutraiada simplesmente NÃO MENCIONA o puteiro. Derrota? Duas derrotas seguidas? O estádio é classificado como LIXO pela própria FIFA? Se formos seguir a abutraiada, tudo é cor-de-rosa...)