21 dezembro 2009

Apesar do placar, a vitória


O jogo entre Barcelona e Estudiantes do último sábado mostrou ao mundo algumas provas da falência do "moderno" futebol europeu. Apesar de parecer loucura o que estou dizendo, muito por conta dos 2 a 1 que garantiram o Título Mundial à equipe catalã, vou tentar provar que os marginais e vândalos da América do Sul ainda são os responsáveis pela graça e pelo caráter popular do esporte.

Voltemos às semifinais do torneio, em que o Barça suou para bater uma equipe mexicana meia-boca. O troço só mudou de figura quando Messi, que hoje será eleito o melhor jogador do planeta, entrou em campo (o argentino se recuperava de lesão) e decidiu a partida num lance fantástico. Já na decisão, o gol do título foi inteiramente sul-americano. Daniel Alves, provavelmente o titular da Seleção Brasileira ano que vem, cruzou para o baixinho hermano balançar a rede, quase de mão.

Mais evidências? Semana passada, assistia ao clássico Liverpool x Arsenal, pelo modorrento campeonato inglês. Estava realmente disposto a encarar 90 minutos de um futsal tamanho família, mas minha paciência não foi suficiente para eu chegar até os 20 do primeiro tempo. Toques errados, nego tropeçando na bola e muito gol perdido - geralmente por erros grotescos das zagas. O melhor em campo, pelo menos até o momento em que troquei de canal, era Javier Mascherano, do Liverpool. O atacante Fernando Torres, outro do time dos Beatles, lembrava muito o velho Finazzi pela quantidade de gols que perdia. Durante tal martírio, pensava com meus botões que qualquer quebra-canelas exibido pela Rede Vida no sábado de manhã teria rendido muito mais prazer.

Vejam, portanto, que se não fossem os atletas saídos de nossas terras e dos países vizinhos, o que teriam para apresentar as milionárias ligas européias? Toda aquela organização, toda aquela elitização, toda aquela esterilidade nas arquibancadas iria vender que cazzo como produto? Restou ao endinheirado e civilizado velho mundo retomar o eterno processo de colonização exploratória nas Américas, só que agora por meio do futebol. E os latino-americanos ficamos todos alegres com espelhinhos em forma de pontos corridos, aumento no preço dos ingressos e criminalização do amor incondicional a um time, enquanto os parasitas dilapidam nossos craques e até mesmo alguns cabeças-de-bagre - que lá também se transformam em craques, dado o baixíssimo nível técnico.

Por volta dos 35 minutos do segundo tempo da final, quando o Estudiantes ainda vencia o Barcelona, enviei uma SMS para o Barneschi: "A vitória do Estudiantes é a derrota do futebol moderno!" A cornetagem veio no domingo, via Twitter. Ainda assim, digo ao meu irmão que o gol salvador de Lionel Messi (responsável pelo primeiro título Mundial dos espanhóis) e sua provável eleição como o futebolista do ano justificam a precipitação da mensagem. O Barça pode ter ficado com o caneco, mas ele só veio por conta do atraso, da marginalidade e do estilo varzeano e irresponsável que permite a formação de grandes boleiros. E no quesito gênios da bola, a gente goleia.

8 comentários:

TiranoLex disse...

Totalmente coerente essa sua postagem. Sem a "desgraça" sulamericana, o futebol não seria possível. Toda a estrutura tão endeusada deles é incapaz de produzir jogadores de grande calibre.

Saudações alvinegras.

Vinicius Duarte disse...

O que pode exterminar a genialidade dos sulamericanos é a adesão maciça a coisas como "joga10daNike", "escolinha de futebol" e esses malditos torneios de malabarismo com bola, onde os moleques ficam treinando na sala do apartamento e na miniquadra do prédio. Ah, o videogame de futebol também é muito perigoso.

Craudio disse...

Barbosa, a estrutura é pra fazer dinheiro. E, infelizmente, estão tentando implementar isso a todo custo aqui.

Vinicius, isso é resultado do crime que fizeram com o termo "várzea", agregando ao rico berço de craques um significado negativo.

Rodrigo Barneschi disse...

Fico honrado com as referências, e concordo em termos. Porque, no fundo, o tal "Futebol moderno" tem um pouco a ver com essa coisa de internacionalização, de times com jogadores de vários países etc. é detestável, mas o menos problemático é que o Barcelona pelo menos segue fiel às suas tradições. É dos casos menos problemáticos.

Craudio disse...

Nada como uma provocaçãozinha pra tirar o cara das férias... Mas vem cá: a internacionalização é fruto do mercantilismo. E o mercantilismo é premissa do futebol moderno.

No mais, concordo que o Barcelona é o menos problemático dos casos.

Bráulio Almeida disse...

Fala, Cláudio.
Não te conheço pessoalmente, mas já cruzei com vc no Pacaembu algumas vezes.
Frequento o seu blog, o do Filipe, do Cruz, etc há apenas alguns meses.
Eu também não gosto dessa modernidade escrota que vem tirando a graça do nosso futebol e compactuo com muitas das suas idéias e dos outros dois acima citados.
Sempre leio muitas críticas e reclamações sobre o "futebol moderno", mas vejo poucas soluções propostas.
Acho que parte dessa "modernização" é um processo irreversível contra o qual não adianta querer lutar, seria uma utopia burra.
Concordo que os pontos corridos são horríveis. Também acho que o aumento do preço dos ingressos não pode ser analisado somente sob o prisma da arrecadação.
Mas, tirando essas questões pontuais, e que são talvez as mais fáceis de serem alteradas, num panorama geral, o resto me parece apenas reclamar por reclamar.
Veja, não entenda esse comentário como uma crítica mas sim como uma pergunta: o que você acha que poderia ser feito para evitar essa "europização e modernização" de nosso futebol?

abraços e parabéns pelo blog.

Craudio disse...

Olá Bráulio! Sempre digo por aqui que, no caso específico do Corinthians, o problema seria resolvido com a dissolução e extinção de todo o Conselho Vitalício e a instituição do processo democrático dentro do clube. Assim, poderíamos participar de fato e, colocando corinthianos de verdade nos quadros de direção, manter as tradições.

Deixo bem claro que o ódio ao futebol moderno não significa não pagar jogadores e comissão técnica, não dar condição de treinamento aos atletas e deixar estádios em situação precária.

Finalmente, como não vemos ainda uma maneira de nos infiltrarmos nas máfias que dirigem o futebol, promovemos há dois anos o Jogo das Barricas. Esse evento propõe, entre outras coisa, a denúncia ao time leonor que, no limite, é o símbolo máximo dessa ideologia de futebol moderno e europeizado - haja vista o argumento ridículo que eles usam de querer se equiparar aos clubes do velho continente. Vale colocar "jogo das barricas" ali na busca do blogue ou no próprio Google para ver o que já fizemos.

Abraços!

Filipe disse...

Ah, mas "o Futebol acabou", "eles venceram"...
Já não deveria mais importar o fato da juventude não jogar mais bola na rua, num campinho de terra, enfim. O "modernismo" conquistou tudo, não é mesmo?

À merda com esse futebol moderno.

Mas que o Barça é, dos "modernos", o mais "antigo", isso é...

Fantástico o post, meu caro.

Abraço