23 setembro 2009

Versões parte 1


Grande prova da insanidade que é a tal propriedade intelectual sobre qualquer música - embora reconheça que autores tenham direito de recompensa dentro do modelo cultural capitalista - é a formatação matemática sobre a qual ela se baseia. Compor é fazer combinações lógicas e, salvo raras exceções, o que se destaca mesmo é a letra.

Não se trata de desmerecimento ao brilhantismo de quem consegue nos emocionar por meio de melodias - Pixinguinha, por exemplo, falava bonito com as sete notas -, mas há de se reconhecer que a grande maioria das canções tem como base a mesma seqüência de acordes, com pequenas variações - confira aqui. A culpa é dos campos harmônicos que, ao contrário da escrita, nos forçam em direção aos clichês, o ponto alto de qualquer música.

Justifiquei, com esse intróito, minha estranha admiração por versões. No caso, é puro reflexo da educação musical que tive, recheada de pérolas da Jovem Guarda (90% dos sucessos do iê-iê-iê tupiniquim são "traduções" do rock norte-americano) e de canções infantis dos anos 80. Neste último caso, impossível não mencionar a dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas, especialistas em adaptações para nossa língua nativa. Não acredito se tratar de falta de criatividade ou cretinice; é mais prestação de homenagem.

Atualmente, quem domina a indústria de versões são as bandas de forró. Reconheço: são armas de destruição em massa, mas aqui e ali dá para pinçar algumas produções bastante divertidas. É o caso da música "Tô ligando", do grupo Rasta Chinela. Tente lembrar do original:



O rock é outro gênero que se dá ao luxo de copiar descaradamente o trabalho alheio. Compreensível, pois 10 entre 10 bandas que começam a fazer barulho nas garagens tocam covers no início da "carreira". Abaixo alguns exemplos divertidos daqui e do exterior, pegando inclusive a versão de "It´s a Sin", do Pet Shop Boys, feita pelo grupo de heavy metal Gamma Ray:

- Bidê ou Balde: "Buddy Holly"



- Gamma Ray: "It´s a Sin"



- Skadaddyz: "Hotel California"



Talvez o único gênero que passe batido seja o samba. No entanto, com um Lá menor ou um Mi maior dá para mandar 3 horas ininterruptas de bons clássicos. Para finalizar esse primeiro post (hei de dedicar mais alguns textos sobre o tema), deixo um pout-pourri gravado pelo grupo Toyshop, com canções que embalaram muitas festas infantis de quem nasceu a partir da segunda metade da década de 70. Sinta o cheiro da coxinha e do sanduíche de carne-louca vindo na memória...


11 comentários:

Bruno Ferraz (sOUL) disse...

post interessante Claudião.

Isso acontece em vários ritmos, no rap, você ve muito som aí que a base é sampleada de clássicos e sons antigos, as vezes rende até processo.

Abraço Irmão.

^^

Craudio disse...

Brunão, o Gabriel, o Pensador, quando era um sujeito decente, colocou no encarte do seu primeiro álbum: "não é plágio, é sample". Quem dera todos pensassem assim!

Aliás, a base de "Lavagem Cerebral" daquele disco é fudida, devidamente surrupiada de "Mind Playing Tricks On Me", dos Geto Boys.

Bruno Ferraz (sOUL) disse...

é Claudião, isso sempre acontece.

Vejo até com normalidade,. quando o cara faz o sample, tipo, modifica o timbre, acrescente outros elementos, da uma variada e tal.. beleza, foda é aquele que é plagio, plagio mesmo.

Abraço!

Álvaro disse...

E, na maioria dos casos, tudo nasceu a partir da escala pentatônica:

http://vimeo.com/5732745

Como o blues é um gênero mais antigo, as regravações são mais freqüentes. Eu tinha uma fita K7 em que juntava varia regravações de um mesmo blues na seqüencia. Coisa como "Black Door Man", "Spoonful", "Help Me", sempre com 4 ou mais versões.

Dá uma outra dimensão, pois você começa a reconhecer o músico, o timbre. Talvez isso seja uma outra visão sobre o seu comentário, pois no blues as diferenças são mais sutis e de exaltação, enquanto no (bom) rock, a idéia é de re-criação da obra.

Craudio disse...

Com certeza, Álvaro. Veja que tomei o cuidado de não dizer que repetir padrões signifique ruindade. A "mão" do cabra influencia demais!

Craudio disse...

Ah, e fudido esse vídeo.

Filipe disse...

Fantástico esse assunto. Tenho a mania chata de estudar Filosofia, e o que se vê é isso. Versões.
Enfim, sem o passo anterior, impossível dar o próximo passo. E passo, em tese, é a mesma coisa que passo.

Direito autoral é coisa relativa. Veja só, o Toninho tinha uma versão maravilhosa da História do Corinthians, por exemplo, e eu a recrio. Tudo porque não somos tabula rasa... Temos nosso conjunto de percepções. Enxergamos conforme nossas experiências. Enfim.
O pouco que criamos que é só nosso merece é ser perpetuado nos próximos passos, e não pode haver um "pedágio" para esse passo.

Enfim, direito autoral é coisa de safado que não enxerga a sim, pois não vê que só faz algo porque alguém já fez.

Sei lá, divaguei. Mas acho que isso funciona na música também.
E no Futebol. Fala-se muito em Pelé, mas sem o Corinthians de 50-55, e os craques antigos, ele não aprenderia o que aprendeu.

E VAI CORINTHIANS!!!

evao do caminhao disse...

tudo é uma versão de outra coisa

tb falei de música hj

kkkkkkkkkk

e não vai curintia... esse fim de semana não!

Filipe disse...

VAI CORINTHIANS SIM, EVA!!!

Onde se lê "direito autoral é coisa de safado que não enxerga a sim", deve ser lido "direito autoral é coisa de safado que não enxerga a SI", por supuesto.

VIVA O CORINGÃO!!!

Thiago disse...

essa versão do hotel california não é reel big fish não cara...

Craudio disse...

Tem razão. Tava marcado no mp3, mas na verdade é do Skadaddyz. Valeu pelo toque!