28 agosto 2009

Por que Nelson


Lendo um texto de Mauro Carrara e publicado pelo Azenha, me veio algumas palavras sobre Nelson Rodrigues. Depois de ser genial, brilhante e transgressor, o magnânimo escritor teve sua obra deturpada pelo cinema nacional e pela rede Globo. A geração pós-década de 70 que não pôde acompanhá-lo cotidianamente - e desinteressada que é - só o conheceu por meio daquelas pornochanchadas cuja única qualidade era mostrar mulher pelada. Para a maioria dos meus contemporâneos, Nelson Rodrigues é autor de putarias, tal qual um Rocco Siffred ou um Ron Jeremy. Já na década de 90, o mestre deve ter revirado no túmulo ao ver muitas de suas histórias destruídas na série televisiva "A Vida Como Ela É", produção que também tentou mostrar certa imoralidade na produção rodrigueana.

Tudo isso é uma grande injustiça com um dos maiores nomes da literatura brasileira, até porque temos que partir do seguinte pressuposto: Nelson Rodrigues despejava nos seus textos nenhum juízo de valor que não fosse denunciar a falência da sociedade moderna. Mas, para perceber isso, é preciso esquecer a telona e a telinha e pegar em livros ou pesquisar nos jornais. Nas páginas diárias, por exemplo, ele foi o melhor cronista esportivo que já se viu e quem é corinthiano já deve ter se emocionado com o relato da Invasão de 76, logo Nelson, um tricolor incorrigível.

Outra ocupação que Nelson Rodrigues exercia com maestria era a de frasista (e foi a aparição de uma delas no mencionado texto do Mauro Carrara que motivou este post). Certeiras e com um quê de cinismo irritante e intrigante, as assertivas até hoje são usadas aos borbotões - termo dele. Confira algumas de minhas preferidas:

"Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém."

"Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de prata."

"Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria."

"A companhia de um paulista é a pior forma de solidão."

"O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele."

"Todo canalha é magro."

Como se vê, um gênio.

Um comentário:

João Medeiros disse...

Um post dessa qualidade não pode ficar sem comentários. É crime de lesa-majestade. Eis as minhas frases preferidas do mestre:

*Diz o dr. Alceu que a Revolução Russa é "o maior acontecimento do século". Como se engana o velho mestre! O "maior acontecimento do século" é o fracasso dessa mesma revolução. (Escrito no auge do comunismo)

*As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado. (dispensa comentários)

*Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas.

*Copacabana vive, por semana, sete domingos. (naqueles tempos era exatamente assim.)

*Se a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela (a melhor de todas)

Excelente texto, Claudio.