29 julho 2009

Salve, meu amigo Benito


Um dos meus ídolos na infância foi o Biro-Biro. Jogador versátil, raçudo e corinthianíssimo, o meio-campista era a representação máxima do povo, justamente no time do povo. Por conta dessa admiração, todo mundo que se parecia com o Biro-Biro também contava com minha simpatia por automática analogia. Nesse time figura Benito di Paula que, como Biro, ostentava cabelo parafuso, o bigode e uma cara de maloqueiro à época.

No último sábado, surgiu a oportunidade de assisti-lo, pela primeira vez, no SESC Pompéia. Tratava-se de apresentação de tão grande importância que, dias antes, nenhum ingresso havia nas bilheterias. Evinha e eu conseguimos entrar na choperia por volta das 21h40 - tomávamos algumas calderetas no Lapinha -, quando terminava de tocar o grupo Berço do Samba de São Mateus.

O maioral pisou no palco coisa de vinte minutos depois. Portando aquela cara de canastrão que lhe é peculiar, Benito di Paula sentou-se em um pomposo Fritz Dobert preto fosco e metralhou uma bela e improvisada introdução. É um maestro, acima de tudo, o Benito. Regeu seu conjunto como fazia o pessoal das antigas: no gesto de mão e no olhar. Para quem está acostumado a teleprompter e metrônomo, tal comportamento deve ser assustador e intimidador...

Quanto ao repertório, impecável do começo ao fim. Emocionei-me com mais intensidade, no entanto, ao ouvir "Além de Tudo", "Bandeira do Samba" e "Vai Ficar na Saudade", além de "Charlie Brown", em que o verso "se você quiser, vou lhe mostrar/torcida do Flamengo coisa igual não tem" foi substituído por "torcida do Corinthians coisa igual não tem".

Não pode passar batido o compromisso desse cara com a música e com aqueles que o cercam, principalmente os fãs. Benito parava para tirar fotos durante os intervalos entre canções, chamou seu filho para uma canja (mesmo o rapaz não sendo lá muito bom, o troço foi bonito), abriu o palco para que o guitarrista mostrasse seu trabalho, homenageou Tim Maia e, fanfarrão, imitou o rei Roberto Carlos numa performance impagável.

É uma pena este país cultivar a péssima mania de tentar jogar seus gênios para escanteio. Se antes Benito di Paula e Biro-Biro estavam nas cabeças, hoje as crianças crescem idolatrando Kaká e escutando Jonas Brothers. Lamentável sinal de como o mundo vem se estragando.

P.S.: já que estamos exaltando quem merece, hoje faz 15 anos que nosso Antônio Carlos Bernardes Gomes se pirulitouzis. Salve Mussum! Você faz muita falta!

2 comentários:

Mônikita disse...

Eu tb gosto muito dele.
Tenho uma reliquia ... um LP
que guardo com muito carinho.

Filipe disse...

Cara, falando em Biro, vou te mandar um email.

Benito (e mais uma seleção de fazer inveja) íamos ouvindo na Marajó do meu Pai Gordão, entulhada de pivete, a caminho do Parque São Jorge, meados dos anos 80, ver o Biro treinar no sábado de manhã...
Ah, tempo bom que não volta nunca mais...