09 fevereiro 2009

Bambas da paulicéia 2


"Quem quiser comprar eu vendo
Obi orobó, quem vai comprar
É pregão que vem do peito
Saudade da vovó
Que faz chorar

É querer
Corre terra sobe montes
Nas caatingas do horizonte
Em busca do direito de viver
De viver

É ciranda, cirandinha nada deu
Sonho doce, boi lambeu
Mulher assume o direito que é seu

Oh! Mariana, oh! Mariana
Pra fazer da terra lama
A água que banha, a água que banha

A cacimba foi furar
Água cristalina encontrar
Lindo palácio, vida em regaço
Um amor de fato
Que um dia fez chorar

Ô ô, a menina bonita
No chão da Bahia dançou mariana
Ô ô ô ô, tem o nome gravado
No cajá dourado
Está sua fama."


Continuando nossa série em clima de Carnaval, hoje destaco aqui um dos mais - senão o mais - belos sambas-enredo da minha querida Unidos do Peruche, escola que aprendi a amar há não muito tempo. Para ser mais preciso, em 2003, levado pelo meu compadre FH, quando a agremiação saiu com uma música sobre o leste paulista e as coisas do interior.

Mas os versos acima compõem o samba "Água Cristalina" e foram feitos pelo grande Ideval, nome de ouro da paulicéia, ao lado de Mestre Lagrila. O Peruche cantou essa obra no ano de 1985, na voz de Eliana de Lima, ano que marcou um processo de retomada de fôlego da escola, anterior à nova deterioração melancólica de hoje em dia. Deteriorações, aliás, são constantes na trajetória do Peruche, muito por conta da mercantilização vil que atinge o Carnaval paulista praticamente desde sua "oficialização" - a gloriosa Camisa Verde e Branco passa pelo mesmo processo.

Esses percalços, porém, não tiram a glória daquela que "brilha o samba nas cores da bandeira brasileira". Tendo origem lá na década de 50 e capitaneada pelo imortal Carlão, o Peruche não chegou a ser campeão em nenhum ano após criação da liga. O que não leva à automática conclusão de que seja uma escola menor, já que prestou muitos serviços ao samba paulista. Lá no bairro do Limão, a Bateria Rolo Compressor faz a terra tremer e é reconhecidamente uma das melhores do Brasil, e o comprometimento de sua comunidade é exemplar. Não fosse isso e o engajamento de Carlão, ao lado de outros bambas, talvez hoje não teríamos nem Anhembi.

O grande problema é que o Peruche parece ter um sapo enterrado sob sua quadra. Todo ano em que há um bom samba (como nesse 1985), alguma coisa acontece de errado, quase sempre uma semana antes de sair na avenida. É uma tortura sem fim e, para quem duvida, basta ver algumas histórias no Wikipedia.

Fiquem então com "Água Cristalina", uma obra-prima da Zona Norte paulistana.





P.S.: a palavra desfile, empregada com equívoco aqui neste texto, foi sumariamente limada depois dessas palavras de Nei Lopes.

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