09 junho 2006

Volta às origens...

Começou hoje a Copa do Mundo de 2006. E com o futebol monopolizando atenções, nada mais propício que falar desse nobre esporte. Nobre mesmo, em todos os sentidos. Dias desses, assistia ao documentário de Chico Buarque, em que o cantor fala dos geraldinos. Pra quem não sabe, essa é a denominação dos torcedores que viam os jogos das gerais do Maracanã. Eram uma verdadeira instituição do futebol brasileiro, extinta por puro capricho daqueles que acham que mandam.

Aí me recordei de um papo de que tive antes de um dos jogos do Corinthians, sentado ali na praça Charles Miller e tomando uma gelada. Falava com um amigo meu sobre os tempos que começamos ir ao estádio, com jogos que tinham 25 mil pessoas em média (eu mesmo cheguei a ir num Corinthians e Botafogo com 50 mil no Pacaembú). E passamos a tentar compreender o porquê da diminuição do público, que hoje beira uma média de 12 mil, menos da metade de há dez anos.

Fosse este um texto daquele promotorzinho ridículo, colocaríamos a culpa na violência e nas torcidas organizadas. Falar isso é um absurdo. A violência é um problema com outras raízes e ela chegar às arquibancadas é só uma de suas conseqüências. O fato é que o futebol virou novamente um esporte de elite.

No começo do século XX, os negros e pobres não jogavam bola profissionalmente. O futebol era restrito aos clubes e seus associados. Os primeiros jogadores negros apareceram no Vasco e no Fluminense, e neste último criou-se a lenda do pó-de-arroz por causa de um jogador negro que passava na cara tal disfarce para se passar de branco. Hoje, o acesso de jogadores com origens mais humildes é imenso, mas o público que sustenta e ama o futebol começa a ser selecionado pelo bolso.

Vejam: um ingresso custa 15 reais, o ônibus 2 (ida e volta são 4, se se pegar apenas uma condução), a cerveja mais 2 e o pernil chega a absurdos 5 reais. Só nessa conta rasa, gastamos quase 30 reais (10% do salário mínimo) para ir ao jogo. Em comparação, os ingressos dos meus primórdios nos estádios deveriam custar o equivalente a 5 reais.

O que temos no Brasil é uma tentativa de europeização do nosso futebol, que ao longo dos anos sempre teve como identidade o seu apelo popular. Só por isso já dá pra perceber o erro que é elitizar o futebol e implantar uma cultura totalmente diversa da nossa. Pior de tudo é ver a imprensa fazendo propaganda dessa idéia, ajudando a deteriorar o esporte.

É triste vermos os estádios cada vez mais vazios. Não é falta de estrutura, não é cadeirinha confortável que o torcedor quer. Os geraldinos ficavam de pé os noventa minutos e tinham a visão menos privilegiada do campo do "maior do mundo". O torcedor quer simplesmente poder pagar um ingresso. E que a europeização seja implantada sim. Mas dentro dos gabinetes de dirigentes que abrasileirizam cada vez mais o futebol europeu, vendendo nossos craques a preço de banana.

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Fecham-se as cortinas, torrrrrrcida brasileira. Morreu neste 8 de junho um dos maiores narradores de futebol da história. Homenagem ao saudoso Fiori Gigliotti.